“Quero chegar primeiro que o traficante”, diz soldado
Na Ilha de Deus, comunidade pobre do Recife, policiais não prendem pessoas. Eles combatem o crime por meio da cidadania a partir do projeto Patrulheiros Mirins
por Nathan Santos | sab, 27/04/2013 - 08:30
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Longe da rotina de perseguir e prender bandidos, dois soldados da Polícia Militar de Pernambuco (PM-PE) e um tenente vivem uma realidade diferente, graças ao propósito de educar e tornar crianças de 8 a 12 anos cidadãs. Se o dia a dia de um policial é marcado por trocas de tiros e risco de morte a todo o momento, a atual situação dos soldados Jozivan Albuquerque (terceiro da foto) e Edson Junior das Chagas (de colete preto na foto), e do tenente José Charles da Silva (centro da foto), é educar meninos e meninas carentes da Ilha de Deus, uma comunidade localizada no bairro da Imbiribeira, na Zona Sul do Recife.
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Desde agosto do ano passado, os policiais retomaram um projeto chamado “Patrulheiros Mirins da Ilha de Deus”. O objetivo da iniciativa é promover aulas de cidadania sobre vários temas, como educação, meio ambiente, mundo do crime, drogas, relacionamento familiar, bullying, respeito ao próximo, entre outros. O projeto não possui investimento de nenhum órgão público ou de instituição privada, e tudo é bancado pelos policiais envolvidos, do 19º Batalhão da PM-PE.
“Hoje nós atendemos 30 crianças, mas, o trabalho vem sendo muito bem feito e muitas outras querem entrar. Compramos o fardamento e investimos nas aulas práticas, levando os meninos para vários passeios e mostrando como a cidadania deve ser aplicada”, explica um
dos organizadores, o soldado Jozivan.
dos organizadores, o soldado Jozivan.
De acordo com ele, existe uma metodologia a ser seguida. “Na primeira fase, a gente faz uma interação educacional nas salas da Ilha e depois levamos os meninos para a prática. Falamos sobre vandalismo, a diferença entre pichar e grafitar, bem como sobre a importância de estudar para ter um futuro digno. Com este trabalho, tenho certeza que mais na frente a polícia não terá que trocar tiros com essas pessoas. Eles estão longe da criminalidade e vivem em pleno desenvolvimento educacional. Eu quero chegar primeiro que os traficantes”, diz o organizador.
Segundo o soldado Ebson, a Ilha de Deus já foi um lugar marcado pela criminalidade, uma vez que lá já aconteceram diversos crimes. “Depois que o projeto começou, não registramos homicídios na Ilha. Eu acredito que isso seja reflexo do nosso trabalho. Por ser uma comunidade muito fechada, onde antigamente a polícia nem entrava direito, por causa dos criminosos, atualmente, sempre somos muito bem recebidos por todos. É uma festa quando a gente chega, tanto dos pais, quanto das crianças”, conta.
Os patrulheiros da cidadania
O sorriso no rosto de Keila Gomes da Silva, de 8 anos, logo se tornou timidez ao avistar a nossa reportagem. Não precisou muito tempo para a menina se soltar, uma vez que, uma simples brincadeira e uma pergunta sobre os Patrulheiros Mirins a fez conversar com uma imensa alegria.
“Eu gosto de tudo. O professor ensina a não usar drogas, a não brigar e a respeitar o meio ambiente. A hora mais divertida é a do lanche”, conta Keila, aos risos. A irmã dela, Emilly Martins, 10, também participa do projeto e gosta das atividades. “Prefiro o momento do exercício físico. O professor (o soldado Jozivan) sempre pede para a gente estudar muito e ficar bem na escola”, comenta a garota.
Para a mãe das meninas, Ana Martins da Silva, o projeto ajuda na educação familiar dos alunos. “O comportamento das meninas melhorou muito. É um trabalho importante e que afasta esses meninos da criminalidade. As crianças de hoje, são os adultos de amanhã”, diz.
Uma rápida caminhada entre as casas e os moradores da Ilha de Deus mostra como a comunidade aceita o projeto. Basta os soldados serem avistados na entrada da ponte que dá acesso ao local, e as notícias se espalham. A todo instante, os pais que ainda não têm os filhos participando do projeto pedem para que os soldados os incluam. “É muita gente querendo entrar, mas, não dá para todos. A princípio, nossa proposta era realizar o projeto em seis meses, porém, o resultado está tão positivo que não temos mais previsão de finalizá-lo”, afirma Jozivan.
Na insistente luta pela cidadania e contra o mundo do crime, os policiais afirmam que o projeto é renovador. “Às vezes a agente chega na Ilha cansado, após um dia imenso de trabalho, mas, ao percebemos a alegria daquelas crianças, o nosso espírito e a mente se renovam. É uma experiência que vai ficar para sempre na minha vida. Só abordar uma criança ou um jovem é muito fácil. Porém, a polícia tem também o dever de educar”, explica o outro organizador do projeto, o tenente José Charles.

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